quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Viva a sociedade alternativa

Jovens que têm como conceito o diferente usam seu estilo para se destacar e expor ao mundo sua filosofia.

Para os não gostam do estereótipo roupas de marca, maquiagem que pouco chama a atenção e baladas Vila Olímpia/Madalena, resta o rótulo de alternativos. Essas pessoas se diferenciam em meio à multidão, seja pela sua filosofia e o modo de se expressar, seja pelas roupas, cabelos e tatuagens que fogem ao conceito de “normal” para os olhos mais conservadores.

Desde os anos 60, com os hippies, pessoas procuram o “ser diferente” como protesto contra alguns valores da sociedade e, na maioria das vezes, como uma forma de negação a outro estilo que surgiu anteriormente. Nas décadas seguintes, outras tribos como punks, góticos, grunges, entre outros, surgiram criando um novo estilo de vida, músicas peculiares e sua própria literatura.

Entre as muitas variantes dentro do alternativo, um dos estilos mais famosos são os metaleiros, ou como eles preferem se auto-intitular, headbangers. “Cabelos longos, roupas pretas, visual para intimidar”, assim define seu visual o publicitário Marccos Chaves, 24 anos. Surgido no fim dos anos 60, o heavy metal é o estilo musical mais antigo que conta com a maior legião de seguidores, já que dentro desta única tribo são englobados uma série de outros nichos como os fãs de Power metal, trash metal, entre outros. “Existe o estilo e suas evoluções, modificações, melhoras, mas a base é praticamente a mesma”, explica a estudante de nutrição Ana Carolina Verpa, 20 anos, que leva nas costas uma bagagem com mais de 20 shows assistidos.

Os punks surgiram em meados doa anos 70 e se espalharam pelo mundo com seu visual dark e sua ideologia anarquista que chocaram a sociedade da época. No entanto, as bandas que sempre foram a principal forma de dissipar os ideais desta tribo já não ousam como antigamente. “Trocaram mensagens políticas e de liberdade por meras ‘mensagens’ de revoltas pré-adolescentes. Mas atualmente existem alguns grupos que ainda transmitem a ideologia punk, só que de uma forma diferente”, afirma o punkrocker e estudante de psicologia Octavio Freitas, 21 anos. Tal fato é comprovado pelo surgimento de outras vertentes de punks mais “lights”, como os Straight Edge (sXe) que, mesmo ainda conservando o estilo agressivo, é contra o uso do tabaco, álcool e drogas. “Muitos de nós são adeptos do vegetarianismo e/ou veganismo. E também organizamos palestras sobre política, meio ambiente e outras questões importantes”, explica a design e jogadora de pôquer profissional Renata Teixeira Soares, 24 anos.

Longe das roupas escuras, com um visual mais leve e um estilo totalmente zen, os amantes do reggae preferem usar roupas simples cheias de acessórios coloridos e os famosos Dreadlocks. A hippie-chic, como prefere ser chamada a estudante Jéssica Dias, 18 anos, diz que seu estilo “nasceu graças a pessoas que ela já conhecia, sua família e à música”. Segundo ela, a única coisa ruim é que as pessoas costumam ligar sua tribo com usuários de maconha, mesmo com ela insistindo que isso não passa de um rótulo. "Uma vez, um amigo meu veio brincando perguntar se eu fumava umas as vezes. Eu respondi rindo que não, e ele sabia. Só depois que descobri que era um conhecido nosso que ficava espalhando isso, sendo que ele nunca falava direito comigo", relata a estudante.

Há também os que mesclam vários estilos e criam o seu próprio, como o estudante de rádio e TV e músico Heitor Sena, 20 anos, que faz um verdadeiro mosaico para criar seu visual. “Tenho um estilo que agrega vários. Tenho cabelo comprido, mas uso roupas coloridas e ouço jazz e MPB, mesmo com minha essência ainda sendo o rock ‘n’ roll”, explica-se. Quem prefere seguir essa linha variada não fica preso a padrões de um determinado grupo e tem liberdade para usar sua criatividade. “Eu apenas corto o cabelo de um jeito que eu acho legal, ou me visto de um jeito que eu me sinta bem”, relata o estudante Caio Mhorse, 16 anos. Contudo, ambos concordam que se tivessem que se definir, optariam apenas pelo alternativo.

Nos últimos tempos, surgiu uma guerra entre os próprios alternativos e as tribos que apareceram recentemente. Contudo, diferentemente do que acontecia no passado entre punks e skins, esta batalha é apenas virtual, mas revela muitas diferenças e preconceitos. “A nova geração teen desagrada bastante. É essa geração que vota nos Colírios Capricho, que leva o Restart aos pódios nas premiações musicais. Os conceitos de qualidade mudaram bastante”, critica Heitor. Entretanto, para os mais radicais, isso é um problema que não se restringe apenas ao universo das tribos e do entretenimento. “A música que o povo ouve serve de espelho para o que é a sociedade”, acredita Octavio.


*** matéria para o jornal 'Acontece' ***

À sombra da catedral da Sé, como um sorriso em uma face melancólica. Escondida, modesta, bucólica e com painéis hipnotizantes; a capela dos franceses em uma época que São Paulo era italiana como nunca. Dentro, o teto comove com seus detalhes e guia lentamente o olhar até o altar gótico da padroeira Santa Luzia. O bancos de mogno ásperos e irregulares mostram que eles passaram por uma "via crusis" e sobreviveram; mesma sorte não tiveram as paredes. Uma insossa tinta branca foi usada para tapar os afrescos de outrora, que são apenas vislumbrados através da recente pintura descascada.



*** exercício da aula de narrativas ***