quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Nunca antes na história desse país

Talvez a frase que mais tenha ficado marcada na cabeça do povo brasileiro entre as tantas ditas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante seus oito anos de governo tenha sido a saudosa “nunca antes na história desse país...”.

No que diz respeito a algumas ações de seu governo, talvez Lula estivesse certo em usar algumas vezes este jargão. Contudo, provavelmente ele se esqueceu que no passado um certo presidente passou por muitos problemas e momentos de glória semelhantes aos seus.

Estudando um pouquinho de história da política brasileira, pode-se constatar que tanto Lula, como Getúlio Vargas tiveram atitudes e vivenciaram situações parecidas. Durante uma reunião ministerial em 30/08/07, o próprio Lula se comparou a Vargas, dizendo que estava “convencido que as realizações sociais e econômicas e o projeto de país só terão comparação com o governo do presidente Getúlio Vargas”.

Ambos os presidentes foram homens populistas, carismáticos e amados pela classe operária. Conseguindo isso graças às políticas assistencialistas e ao Nacionalismo acima de tudo; mesmo que seus opositores rogassem pelas políticas do Liberalismo.

Para chegar ao poder, Lula galgou durante três eleições perdidas até conseguir trocar seu apartamento em São Bernardo pelo Palácio da Alvorada, em Brasília. Nesses 12 anos de tentativas, foi derrotado por Collor e FHC, em duas oportunidades.

Já Vargas subiu ao poder de maneira indireta, pelo fato de a Oligarquia de São Paulo ter quebrado o acordo com a Oligarquia de Minas Gerais pelo revezamento do poder sobre o Brasil. Com a vitória da aliança entre Paraíba, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, o gaúcho Getúlio Vargas se tornou presidente. Somente o segundo mandato de Getúlio veio por meio da democracia.

Com a imprensa os dois também tiveram uma relação de amor e ódio. Durante suas vidas políticas, angariaram alguns opositores de peso, mas nenhum conseguiu manchar suas imagens com a população.

Vargas recebeu uma oposição ferrenha por parte da grande imprensa e principalmente do jornalista Carlos Lacerda e o jornal Tribuna da Imprensa. Porém, recebeu apoio de Samuel Weiner e o jornal a Última Hora, mesmo que o diário de Weiner só tenha sido aberto com o dinheiro emprestado do Banco do Brasil por Getúlio.

Lula, por sua vez, foi alvo críticas e oposição aberta da revista Veja ao longo dos seus oito anos de mandato, assim como de outros veículos também, mas nada tão escancarado como o da revista. Por outro lado, teve apoio da Caros Amigos e da Carta Capital.

Nas alianças políticas, Lula barganhou o apoio dos antigos alvos de suas “pedras”, como José Sarney e Fernando Collor, conseguindo manter a maioria no congresso mesmo perante a forte oposição do PSDB e seus aliados.

A pedra no sapato de Vargas sempre foi a UDN de Carlos Lacerda. O partido fazia oposição por oposição e ,reza a lenda, na criação da Petrobrás Getúlio sugeriu que a estatal fosse uma empresa público-privada apenas para que a UDN fosse contra seus princípios liberais e o capital da petrolífera se tornasse inteiramente nacional.

Nos escândalos, uma CPI para cada um. Nos “louros”, o virtual posto de pais de milhões de brasileiros. Vargas morreu e se tornou um mártir.

Lula no momento está doente, vítima de um câncer e passa por uma quimioterapia. Estará caminhando ao encontro da história política brasileira mais uma semelhança entre os dois ex-presidentes?

Aos senhores obviamente óbvios


A sociedade perfeita de Utopia idealizada por Thomas Morus no século XVI nem chegou perto de ser posta em prática em nenhuma nação. Mas agora pensemos num país imaginário, é claro, em que para onde se olhe existe algo extremamente errado e mesmo assim tudo continua na maior normalidade. Vamos chamar este lugar de Anarco-utopia.

Digamos que nesta terra criminosos possam andar livremente pelas ruas e aparecer com um belo sorriso amarelo na televisão. Seus discursos seriam tocantes e animadores, mas suas intenções nefastas e  aterradoras.

Em Anarco-utopia, até existem alguns loucos que exigem mudanças e ficam inconformados com tamanha perversidade, mas nada que consiga muito destaque. Imaginem que lá, políticos corruptos e acusados de crimes podem se candidatar às maiores esferas do poder.

Mas espere um pouco, meu caro leitor. Não sei por que, mas Anarco-utopia me lembra um lugar abaixo do Equador, onde não há pecados e o carnaval com seus traseiros esvoaçantes funcionam como uma borracha para as mazelas do sofrido povo.

Pois é, Anarco-utopia nada mais é que um vislumbre de Brasil que tive durante uma evacuação mental num momento de leve alcoolismo e ócio.

Vivemos no país das obviedades. Somos obrigados a jazer numa terra de malucos que não conseguem discernir , provavelmente de propósito, o certo do errado.

Não pense que seja algo muito complexo como a legalização da maconha ou o aborto em casos de estupro. Damos voltas em mais voltas ao redor de assuntos que, em lugares minimamente sérios, seriam tratados como supérfluos.

Vide o projeto Ficha Limpa,  que teve seu embrião no longínquo ano de 1997 e precisou de 15 anos até que fosse implementado num processo eleitoral. Porém  não se esqueça, você aí que está me lendo, que tudo pode acontecer até chegar o dia de cumprirmos nosso dever cívico e perder uma tarde de domingo para votar em pessoas de caráter tão lustroso.

Sinceramente, não ficaria nem um pouco surpreso se novamente o Ficha Limpa fosse posto de lado com as promessas de que nas próximas eleições certamente a lei entraria em vigor, assim como ocorreu em 2010. E cairíamos novamente no mundo das obviedades.

Para piorar nossa situação, brasileiros, não temos só o problema dos deputados Irmãos Metralha para nos preocupar. O que dizer então das pessoas morrendo nas filas dos postos de saúde enquanto mega Arenas esportivas são içadas aos céus. Realmente estão fazendo um belo trabalho para a Copa e para as Olimpíadas, pena que poucos brasileiros terão poder aquisitivo para frequentar esses eventos...

E o que dizer da nossa carga tributária (a maior!) padrão Suécia disponibilizando ao povo nordestino um padrão de vida senegalês? A velha máxima do é dando que se recebe realmente não é muito vista por terra brasilis. Aqui onde mais se recebe é nos fundilhos, e o que mais se dá é o resto de dignidade que, ainda, aparentamos ter.

 Viva viva. Três vivas para os senhores obviamente óbvios.

Não esquecendo que em 2012 teremos eleições e começa de novo o shows de horrores para a população brasileira assistir de camarote. Eleitores babando na frente da televisão é sempre uma opção muito recorrente e desejada pelos nossos senhores; afinal, é para isso que eles trabalham mandato atrás de mandato.

Das ricas margens plácidas do Ipiranga até os seculares feudos das capitanias hereditárias do Nordeste  brasileiro. Para onde olhar? Onde se esconder? Ainda há um lugar para fugir?

 Oh, pátria mãe gentil... Salve salve! Salve o povo das obviedades!