quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Chernobyl ainda exala

Em 1986 a Cortina de Ferro imposta pela União Soviética ainda era um muro alto e maciço. Os que viviam à sua sombra muitas vezes eram obrigados a viver com a negligência dos ‘Czares’ soviéticos que não queriam deixar nada de errado em seu regime ser exposto ao rival mundo capitalista.
No dia 26 de abril de 1986 uma cidade ucraniana amanheceu com uma nuvem de radioativa sobre sua cabeça. Ali começava o pior acidente nuclear da história da humanidade: o Desastre de Chernobyl.

Inicialmente, operadores da usina queriam fazer um teste para avaliar como um dos reatores reagia quando utilizado com baixos níveis de energia. Contudo, por despreparo ou erro do próprio maquinário, o sistema hidráulico de resfriamento falhou e, consequentemente, um superaquecimento irreversível tomou conta do reator quatro.

A explosão liberou na atmosfera material radioativo em quantidades letais que logo se dispersaram por grande parte da Europa. Para fazer um comparativo, as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki liberaram, aproximadamente, uma radiação quatrocentas vezes menor que a da usina de Chernobyl.

Assim que tomou conhecimento dos fatos, o governo Soviético organizou um mutirão com mais de 500 mil trabalhadores, muitos deles civis, para fazer a limpeza do material radioativo na região e auxiliar na retirada imediata de aproximadamente 50 mil pessoas. Helicópteros também foram enviados ao centro da explosão para tentar controlar as chamas despejando areia e chumbo sobre elas.
Após o acidente, especialistas diagnosticaram que faltava uma maior estrutura de segurança para a usina de Chernobyl. Estruturas de cimento e aço eram inexistentes no local, e só foram construídas depois que o mal já estava feito e a nuvem radioativa se espalhava rapidamente por toda a região graças ao clima úmido e chuvoso.

O reator era rico em Césio-137, e mudou para sempre a vida de quem morava nas proximidades da usina. Mesmo após 25 anos do acidente, a população atingida e seus descendentes sofrem de enfermidades como cânceres e anomalias genéticas.

Um estudo realizado pela Universidade da Carolina do Sul, com a colaboração de biólogos e cientistas consagrados, atestou que Chernobyl ainda é perigo para o meio ambiente. São 25 anos que separam o desastre da agricultura e vida selvagem atual, mas de acordo com o biólogo Tim Mousseau, Chernobyl definitivamente não é o paraíso para a vida selvagem. A radiotividade ainda afeta zonas rurais do nordeste ucraniano, onde camponeses fazem plantações ilegais de cogumelos e grãos para se sustentarem. O índice radioativo da região baixou nos últimos 25 anos, mas as regiões mais críticas ainda apresentam contaminação em até 20 centímetros abaixo do solo. A contaminação ocorre com a passagem das partículas radioativas do solo para as plantas por meio das raízes, e animais e humanos podem contaminar-se através do alimento ingerido. Se absorvido pelos ossos e órgãos, o Césio-137 danifica o DNA e aumenta o risco de células mutantes que podem vir a tornarem-se tumores.

Cerca de 2.2 milhões de pessoas ainda sofrem com cânceres e outras doenças contraídas por causa da catástrofe. Todos são sobreviventes do acidente ucraniano, que acabou com a cidade de Pripyat. O município foi construído especialmente para abrigar os trabalhadores da usina de Chernobyl, e hoje é uma cidade-fantasma, repleta de marcas da tragédia.

Na cidade abandonada de Pripyat, construções ainda guardam os símbolos do regime soviético, um parque de diversões que nunca foi inaugurado permanece intacto e escolas vazias ainda conservam máscaras de proteção usadas pelos alunos após o acidente.

Cerca de 100 quilômetros do epicentro do desastre, uma pequena criança que no futuro se transformaria no melhor jogador de futebol do mundo em uma temporada era obrigado a abandonar sua casa junto com sua família. O pequeno Andriy Shevchenko, que anos mais tarde jogaria nos poderosos Milan e Chelsea, aos nove anos já sabia o que é ser um refugiado nuclear. E mesmo após tantos anos o medo e as lembranças ainda o perseguem. “Deixou-me transtornado. A mim, à minha família, a todos os meus amigos”, revelou o jogador que atualmente defende o Dínamo de Kiev em uma entrevista coletiva.

No dia 26 de abril de 2011, a ONU (Organização das Nações Unidas) prestou uma homenagem às vítimas pelos 25 anos do acidente. “O aniversário de Chernobyl é uma ocasião para lembrar do custo humano do desastre, como também para fazer um balanço dos problemas persistentes”, declarou a Embaixadora da Nicarágua e Presidente interina da Assembléia Geral, Maria Rubiales de Chamorro.
Na exposição de fotos em Nova York sobre o acidente, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon garantiu que manterá a questão da segurança nuclear na pauta Internacional. “Ao trabalhar para garantir que a energia nuclear seja utilizada de maneira pacífica e segura, estaremos honrando a memória das vítimas de Chernobyl e de seu heróis”, disse.