sexta-feira, 30 de outubro de 2015

União, organização e São Bernardo FC

Com esforço e poucos recursos, o time mais jovem do Grande ABC luta para alcançar o topo

“Não temos a intenção de ser o primeiro time de ninguém”. São as palavras pronunciadas pelo Diretor de Marketing do São Bernardo Futebol Clube, Thiago Ferreira, 21, dentro de seu escritório, num sobrado meio escondido, onde funciona a sede da diretoria do clube do Grande ABC. Lá, nada se vê de faixas ou placas com o nome do clube, a não ser uma Kombi estacionada bem em frente pintada com as cores preta, branca e amarela com um grande Tigre, o mascote do time, desenhado.

O “Bernô”, como é carinhosamente chamado pelos seus torcedores, é o clube mais jovem a conseguir disputar a série A1 do Campeonato Paulista. Com a marca de três acessos em apenas cinco anos, o time fundado em 2004 disputou a primeira divisão do Paulistão de 2011, mas foi rebaixado no mesmo ano, ainda que só perdesse para os quatro grandes do estado. O “Tigre do ABC” teve a quarta maior presença de público do campeonato com uma média de onze mil pessoas por jogo antes das finais do Paulistão, inclusive conseguindo ficar à frente do Santos. Atualmente o clube joga a Copa Paulista, e chega a atingir números de dois mil torcedores por jogo.

O palmeirense Vinícius Prudencio, que também é torcedor do “Bernô” por ser time da sua cidade, mesmo não indo ao estádio desde que acabou o Campeonato Paulista, acompanha o site do clube e confirma que a cidade abraçou o time. “Entro no site deles vira e mexe, mas desde que acabou o campeonato paulista que eu não vou ao estádio. Mas com certeza que a cidade abraçou o time, porque no ano passado quando estava pra subir, o estádio sempre lotava e chegou a ter facilmente treze mil pessoas. Esse ano não foi diferente, durante o paulistão todos os jogos estavam realmente lotados”, afirma o estudante de Ciências da Computação de 21 anos.

Depois de sentir o “gostinho” e as vantagens de se disputar um campeonato com visibilidade nacional, agora o São Bernardo FC tem de novo a missão de conseguir voltar à elite com valores arrecadados muito abaixo dos que recebia na última temporada.
De acordo com dados cedidos por Thiago, a Federação Paulista dá aos times que disputam a série A2 aproximadamente 60 mil reais pelo campeonato, enquanto durante a disputa da série A1 o São Bernardo FC ganhava somente de cotas de televisão Um milhão e quatrocentos mil reais, fora os patrocínios de camisa do banco BMG, da multinacional de materiais esportivos espanhola Kelme (empresa que fez as camisas do Real Madrid no início dos anos 2.000) e placas de estádio que vendem muito mais na elite do campeonato. “Na série A2 se arrecada menos de 30% do que se ganha disputando a série A1”, completa Thiago.

Para fugir do ostracismo e conseguir se manter durante a temporada, o clube usa da criatividade e esforço na busca por ajuda de patrocinadores e sociedades com empresas, como a parceria com a RedeTV+, que transmite todos os jogos do “Bernô” ao longo do ano para o ABC e empresas da região que compram grandes lotes de ingressos para os jogos da temporada e asseguram uma renda fixa e público sempre presente no estádio.
Nos quase sete anos de existência, foi fundado no dia 20 de dezembro de 2004, o São Bernardo FC além de conseguir atingir a elite do futebol do estado de São Paulo, também progrediu na questão estrutural e hoje tem recursos semelhantes ao dos grandes clubes do Brasil, com centro de fisiologia, médicos próprios, centro de treinamento, academia e alojamento.

O São Bernardo FC também tem um papel importante para a cidade, pois realiza um trabalho social chamado “Projeto Tigrinho”, que auxilia 35 escolinhas da região dando a aproximadamente seis mil crianças uniformes, material esportivo e treinos com instrutores.

Caio Sanchez, 18 anos, é um atleta profissional do time de São Bernardo do Campo e confirma que o time disponibiliza uma boa estrutura fundamental para que um bom trabalho seja desempenhado pelos jogadores. “O São Bernardo possui uma estrutura de dar inveja a muitos clubes de maior expressão. Isso devido à grande competência e organização de toda comissão técnica que soube investir e aproveitar ao máximo as condições adquiridas” diz Caio. “Tal comissão é formada por grandes profissionais que, na sua maioria, é composta por ex-jogadores. A estrutura em geral, os alojamentos, o campo, o refeitório, a academia e o departamento médico são todos da melhor qualidade”, completa o jogador que já teve passagem por outro clube da cidade, o Palestra de São Bernardo.

Para Thiago, um dos segredos desse sucesso e dessa organização do clube, é que tudo internamente é muito “casado”, com reuniões frequentes com o Presidente Luiz Fernando Teixeira que deixam acertado tudo que está acontecendo de bom e ruim nos vários departamentos do clube. “Junta todo mundo e perguntamos a cada um o que está tendo de problema nas áreas e lá também já é a hora de dizer ‘você está fazendo tudo errado e está prejudicando a mim e ao clube’. Lavar a roupa suja é ali. Somos todos muito unidos. Aqui todo mundo sabe de tudo que ocorre dentro do clube”, conta Thiago.

Esta organização também se estende entre os técnicos do time profissional e da base. Recentemente no comando do time principal do “Tigre do ABC”, o ex-técnico de Palmeiras, Botafogo e até pouco tempo do Ceará Estevam Soares era obrigado a acompanhar de perto as reuniões com a Diretoria e os treinos da categoria de base, mesmo que um pouquinho a contra gosto. “A gente obrigava ele a assistir aos treinos da base. Ele detestava isso, mas era obrigado porque era lá que o diretor de base avisava sobre determinado jogador que já estava pronto para subir e ele podia olhar o atleta mais de perto”, revela Thiago.

Todo esse rigor e competência têm reflexos nos resultados dentro do campo. Atualmente o time profissional está na Liderança da Copa Paulista e o sub-20 chegou até as quartas de final do Paulistão da categoria, caindo diante do Santos em dois jogos equilibrados. Para Caio, jogador do clube, a competência do São Bernardo pode ser um trampolim para a chegada de seus atletas a grandes clubes, pois “mesmo caindo de divisão, conseguiu mostrar sua força para os grandes e para a mídia. O clube já revelou alguns bons jogadores que estão espalhados pela segunda divisão do nacional”.

Outro orgulho do São Bernardo FC é a inexistente dependência financeira da prefeitura da cidade, diferente do que ocorre com seus irmãos Associação Desportiva São Caetano e Esporte Clube Santo André. A única parceria com o governo da cidade é a cessão do estádio 1º de Maio, que é de uso exclusivo do São Bernardo e gera um gasto mensal de até dez mil reais ao clube com a sua manutenção. Por outro lado, a arena foi reformada recentemente, é a mais moderna do ABC e provavelmente será a subsede de São Paulo na Copa de 2014. Lá será o lugar onde possivelmente ocorrerão os treinos da seleção brasileira, já que o estádio Bruno José Daniel, do Santo André, principal concorrente à vaga de subsede está interditado.

“Este foi o nosso grande ‘BUM’. Foi o auge. Nosso Presidente Luiz Fernando é amigo pessoal dele, e fez o convite para o Lula assistir no estádio o jogo contra o Corinthians. Ele veio e disse que o São Bernardo agora era o segundo time dele”, é o que diz Thiago sobre o evento que fez o pequeno e jovem “Bernô” aparecer nas manchetes de todo o mundo.

Com recém completados seis anos de existência, o time conseguiu o que a maioria dos times brasileiros tradicionais tenta até hoje. Graças a Lula, ganhou as páginas do site da FIFA e do The New York Times com imagens do ex-Presidente do Brasil e “O cara” de Obama com o coração e a camisa divididos entre Corinthians e São Bernardo FC.

Para o futuro, o clube primeiramente pensa continuar conquistando a cidade e num futuro não muito distante atingir a elite do futebol nacional. O projeto inicial de já começar disputando a série D do Brasileirão no segundo semestre foi quebrado por causa do rebaixamento no Campeonato Paulista.

“Nosso projeto é chegar o mais rápido possível à série A do Brasileiro. Não somos uma time que quer apenas lançar jogadores, como outros que preferem disputar campeonatos mais fracos e baratos para fazer caixa com os jogadores que vendem. Nossa meta é fazer futebol e alcançar a elite, ainda mais agora com o São Caetano e o Santo André em baixa”, finaliza Thiago.

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