quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Tamanho é documento


Extremidades da anatomia não se restringem apenas a braços e pernas. Outra proeminência do corpo humano que nem sempre é muito observada – no meu caso, modéstia a parte, uma enorme proeminência – quando está funcionando bem alegra o dia de qualquer cidadão ranzinza, que acordou com o pé esquerdo e foi trabalhar na chuva.

Muitas vezes, o tamanho dessa extremidade pode causar um certo desconforto inicial nas relações, mas com cuidado e um pouco de jeitinho tudo se encaixa perfeitamente; até que frases como “Meu Deus, como é grande!” com o tempo e a intimidade se tornam cada vez mais raras.

Obviamente, todo este papo inicial ficaria muito estranho se você, leitor meu, tivesse uma mente promíscua. Pois está claro que a tal extremidade nada mais é do que o inocente nariz.

Oh, grande nariz. O famoso ladrão de oxigênio alvo do bullying juvenil espalhado pelas escolas do mundo. Fato que, se pensar bem, soa um pouco estranho se levarmos em conta nossa evolução a partir do macaco e que em algumas espécies de primatas o tamanho do nariz é um sinal da alta hierarquia. Em poucas palavras, na natureza onde o bicho pega, o narigão é quem comanda.

E falando em lideranças, países tradicionalmente conhecidos por seus narizes avantajados, como a Itália e a Turquia, não têm históricos de guerras entre si e sempre estão em harmonia. Muito diferente dos anglo-saxões de narizes “comuns” que sempre ficam de mal com os árabes de ventas robustas.

No entanto, mais do que uma questão de caráter nacional, o nariz é uma herança familiar. Que o diga este humilde escritor que teve a mesma sorte de seu pai, seu avô e hoje se orgulha do próprio nariz que chegou aos 5,2 cm, mesmo ele não sendo suficientemente bom para alcançar o recorde mundial de 8,9 cm. Paciência, na vida não se pode ter tudo.

E se você que conseguiu chegar até o final desse texto e até agora não se identificou com a causa dos narigudos, provavelmente é porque não tem um. Mas pode ficar tranquilo que um dia nos entenderá, pois, como dizem por aí, a idade vem chegando e o nariz nunca para de crescer.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Nos desembalos das 7 da manhã

Todos caminham como gladiadores que em breve terão que matar uma temida fera. Os rostos perdidos no meio da multidão esboçam a nostalgia de suas casas e do sono da noite anterior, mas o dever lhes impõe uma longa Odisséia, perigosa e incerta.

Nossos gladiadores – nos quais me incluo – vivem na modernidade do aperto e desconforto do campo de batalha que em nada se parece com o dos tempos de Spartacus. Esta zona de combate contemporânea que é ao mesmo tempo temida, odiada e necessária é a linha vermelha do metrô de São Paulo.

Pode parecer exagero, mas se você, meu amigo (a), ainda é um virgem na arte de pegar metrô, pense que dentro dos vagões do trecho leste-oeste é totalmente comum seis pessoas ocuparem o mesmo metro quadrado.

E por falar em vagões, dentro deles está escondido o Santo Graal de cada passageiro: os bancos. Isso mesmo. Aqueles bancos de plástico, duros e simples, que são o motivo de vários rounds de cotoveladas e empurrões que só acabam após o “PIIIIII” do fechamento das portas. Exatamente como o gongo funciona no boxe.

E depois de muitos contorcionismos, os abençoados pela graça Divina que conseguiram entrar primeiro nos vagões têm o livre arbítrio para escolher entre os bancos marrons e os azuis. Mas é óbvio que a preferência é pelos marrons, porque, infelizmente, os azuis podem causar danos terríveis às pessoas saudáveis; afinal, não é difícil ver usuários que estão neles sofrerem de um sono devastador exatamente na hora em que entra uma grávida ou um idoso no metrô.

Contudo, engana-se quem pensa que metrô é só martírio. Metrô também é entretenimento! Há inclusive encenações muito bem trabalhadas de pedintes que não conseguiram curar suas doenças ou arranjar um emprego ao longo dos meus 10 anos de rotina metroviária. Sempre com os mesmos atores, e tudo em troca de uma mísera moedinha.

Os estudantes que pretendem seguir uma carreira que exija conhecimentos de física também contam com uma contribuição considerável da linha vermelha. Um dos bons exemplos disso ocorre na estação Brás, onde uma das leis de Newton é totalmente desmoralizada, pois a partir dessa estação dois corpos passam a ocupar o mesmo lugar no espaço. Por sorte, a credibilidade de Newton não é totalmente perdida, já que na estação Sé sua primeira Lei se faz presente e é comprovada quando mesmo que o felizardo não queira desembarcar, ele acaba desembarcando por inércia, todos os dias entre seis e oito da manhã e cinco e nove da noite.

São tantas horas perdidas dentro de uma estrutura de alumínio que nós, passageiros, nos transformamos numa família como qualquer outra. Temos brigas e desentendimentos, mesmo estes sendo causados na maioria das vezes por empurrões ou por cavalheiros que tentam se aproveitar de damas indefesas que frequentam os estreitos corredores. Mas nada que não se resolva com uma singela e exaustivamente repetida frase: “se não está contente vai de táxi!”.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ode ao desencanto

Trabalhamos em pleno arranha-céu... Espaço de conforto onde conseguimos ficar distante como o astro rei, que vive no Templo dos Deuses, e se faz presente em nosso dia-a-dia quando seus raios ardentes douram nossa frágil pele burguesa. Nós, aqui de cima, ficamos tão próximos que pensamos ser importantes como ele.

Trabalhamos em pleno arranha-céu... Abrindo as janelas nos dias quentes e escuros sem saber o que se passa bem abaixo de nós. Aquelas pessoas tão pequenas ao longe... Quem são? Aonde vão? A vontade de voar pelas escadas até a rua é nossa única chance de conhecer outras realidades. Que saia a preguiça, e venha a compaixão!

Menos um andar, dois andares, três andares... Quando estamos ansiosos os segundos são horas intermináveis de apreensão e angústia profunda. Degraus e mais degraus são pedras no meio do caminho que distorcem minhas retinas tão fatigadas pelo temor do desconhecido que está por vir. Coragem! Desce do ar-condicionado ser humano despreparado, mergulha na realidade infame de seus ilustres semelhantes desfavorecidos e invisíveis a ti.

A claridade proporcionada pela abertura porta automática logo se transforma numa penumbra áspera e aterradora. O que um dia fora pessoas, não passa de um vislumbre de dignidade e esperança. Figuras disformes caminhando para lá e para cá à espera da contínua rotina de não fazer nada; onde só resta implorar aos céus por um destino melhor, um renascimento, um perdão pelos seus pecados. Visão amarga, que faz chorar o coração. Existe na nossa frente um espelho que só reflete trapos e horror.

O entardecer na cidade traz o ar pesado de um dia inteiro de poluição. O firmamento azul anil ficou no passado e agora foi banhado por um vermelho intenso que se mistura ao cheiro de ferro do engarrafamento. Todos os dias caminhamos no ensurdecedor silêncio das almas que vagueiam por nós despercebidas, mesmo tentando ser notadas no chão das grandes avenidas aos gritos por esmolas ou no choro de uma mãe que vê suas crias sofrendo na inanição do descaso que os cerca.

Chega a cavalaria com seu comandante gritando uma sinfonia de agonia: “Tranquem, arrastem, expulsem. Fazei-os fugir!”. E respiram aliviados aqueles que agora se sentem seguros sem as formas espectrais obstruindo seu conto de fadas amaldiçoado pela doce e nebulosa ignorância. Estes pobres, viciados e mortos de fome... Quem são? Aonde vão? Guerreiros sem choro. São bravos, são fortes, são retirantes do norte; meus cantos de sorte, guerreiros, por favor, não desistam.


||| Paródia de "O navio negreiro" |||

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Excesso de gostosura


Diferentes visualmente, gordinhos e sarados passam por situações semelhantes a qualquer ser humano.

Houve um tempo em que ser gordinho era sinônimo de saúde, prosperidade e beleza. Contudo, com o avanço da medicina e as mudanças dos padrões estéticos, essas pessoas com um pouquinho a mais de massa foram jogadas para o “lado negro da força”; enquanto seus irmãos magros e sarados tornaram-se um “totem”, tanto pela questão do bem estar, como pela aparência.

Academias, dietas milagrosas, cirurgias e pensamentos de “puxa, estou meio cheinho” fazem parte do cotidiano de quem tem pelo um espelho dentro de casa e não está satisfeito com o seu corpo. “Nem gosto de me olhar no espelho, mas quando olho penso: Meu Deus! Quanta banha”, diz a diarista Maria Benedita Mariano, de 56 anos. “Mas faço caminhada e hidroginástica toda semana. O problema mesmo é a comida”, completa Maria.

No passado, principalmente na época do Renascimento, era muito comum as obras de arte retratarem mulheres nuas apresentando leves proeminências na região abdominal. A explicação para este fato; além de que quadris largos representavam fertilidade, é que a humanidade sempre sofreu com a fome, e quem apresentava mais “dobrinhas” era considerado mais saudável e, conseqüentemente, teria mais chances de sobreviver.

Hoje, com a sociedade ocidental se preocupando menos em achar o que comer, e com o pensamento de que gordura é um sinal de sedentarismo, quem não tem um corpo de Gisele Bündschen e Hugh Jackman pode começar a se preocupar com a visão de ambos os sexos. “Eu acho que a pessoa que é descuidada com o corpo é descuidada com outras coisas que dizem respeito a si próprios”, afirma o músico Eduardo Bolletti, de 29 anos e recém separado de uma magrinha. Por essa mesma linha vai a dentista e modelo de 22 anos Regiane Calastro, que afirma: “Prefiro sarados não só por estética, mas sim por saúde mesmo, por cuidarem-se mais”.

Mesmo sendo mais difíceis de achar, também existem os que preferem os gordinhos; afinal, gosto cada um tem o seu. “Não gosto de mulheres saradas. Aquelas que têm tanquinho muito definido dão a impressão de que se quiserem podem me bater muito”, desabafa o estudante de Engenharia Química e blogueiro Henrique Guimarães, 20 anos. Estas pessoas que não ligam para as “gordurinhas” têm alguns motivos para não se preocupar com a aparência do parceiro, como exemplifica o editor de vídeo Rodrigo Belati, 28 anos, no alto de seus 105 quilos. “Curto as mais cheinhas porque com elas não tem muita frescura, o que rola é um charme único e mais lugares para pegar. Essa é a grande verdade. Magrinhas se apertar de mais, quebram”.

A nova febre entre brasileiros é a cirurgia plástica. Segundo dados colhidos pelo IBOPE Inteligência, foram realizadas 645.464 operações no Brasil em 2009, das quais aproximadamente 26% são de lipoapiração. “Fiz a lipo porque com a idade, mesmo agente não querendo a barriga aparece”, relata a dona de casa e mãe de três filhos Mácia Gouvea, de 47 anos.

No entanto, quem não tem dinheiro para uma cirurgia plástica tem que suar para alcançar o corpo que deseja. “Cada vez temos mais clientes. E com certeza a maioria das pessoas que frequentam a academia são gordinhos que sonham ficar magros, e sarados que querem manter a forma”, diz o professor de musculação e spinning Ricardo Carvalho, 26 anos. Comprovando a crescente busca pela perfeição do corpo; que as vezes chega a níveis preocupantes e perigosos para a própria vida de quem está nesta busca.

Casos de bulimia e anorexia foram noticiados em larga escala pela primeira vez nos anos 80, quando a vocalista da banda The Carpenters, Karen Carpenter, faleceu com apenas 32 anos em decorrência de problemas causados pela anorexia. De lá para os dias atuais, é cada vez mais comum vermos pessoas sofrendo desses males, principalmente entre jovens. “A sociedade faz uma grande pressão sobre quem é gordinha, principalmente quando se tem apenas 14 anos”, explica a estudante de biologia Yasmin Maccari, 19 anos, que sofreu com a bulimia na adolescência. “Sinceramente, até hoje sinto muita pressão. Fiz tratamento psicológico, mas ainda não estou 100% curada”, desabafa a estudante.

Mas engana-se quem pensa que apenas os gordinhos passam por problemas devido a aparência. Pessoas que almejam um corpo escultural e não têm paciência para malhar, fazem uso de anabolizantes para chegar rapidamente ao resultado esperado. Contudo, tomar estes hormônios pode causar uma série de efeitos colaterais. “Eles querem melhorar o visual, mas acabam piorando de forma irreversível. O uso de anabolizantes pode causar nos homens ginecomastia (aumento das mamas), atrofia testitular e impotência. Nas mulheres ocorre a aumento de pêlos no corpo, hipertrofia clitoriana e engrossamento da voz. Doenças comuns a ambos são câncer de fígado e problemas no coração” explica o estudante de medicina Daniel Pires Penteado Ribeiro, 22 anos.

E mesmo para os que não ligam para os problemas citados por Daniel e acham bonito e prático os músculos falsos conseguidos com anabólicos, fica a dica da modelo Regiane. “Eu gosto de homens sarados. Mas, sinceramente, quem toma bomba não tem chance”.


**matéria feita para o jornal 'Acontece'**

sábado, 8 de janeiro de 2011

Vergoinha é?

Grande parte da população brasileira é formada por descendentes de imigrantes. Africanos, europeus e asiáticos chegaram aos baldes.

É difícil vermos índios por aí, e os que vemos com freqüência são bolivianos. Viram só? Mais imigrantes!

De acordo com meu informante, o Wikipédia, desde 1870 chegaram ao Brasil mais de 6 milhões de estrangeiros que vieram fazer sua vida por aqui. Antes disso, quem chegava era chamado de colonizador, e não há dados sobre eles. Colonizadores depois de 300 anos... Bizarro!

Me atrevo a dizer que quase todo brasileiro é descendente de um imigrante. Vou repetir: D-E-S-C-E-N-D-E-N-T-E.

Então porque será que está lotado de nego falando que é alemão, italiano e blá blá blá? Vergonha de ser MADE IN BRAZIL?

Eu assumo que não me orgulho de ser da mesma terra em que nasceu o funk carioca. Mas agente também tem coisas boas, tipo... várias coisas.

Num adianta ser brasileiro só durante algum jogo de seleção, com todo mundo cantando “eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amooor”. Aliás, tenho um ódio mortal dessa música!

Porque os caras nem esperam muito tempo pra dar a realidade da situação. Saem do estádio pro busão e já começam a falar: “olha como tá cheio, o Brasil é uma M*E*R*D*A mesmo”. Ora essa... cadê o orgulho e o amor?

Amor beleza, somos insistentes. Mas o orgulho passa longe.

Até parece que brasileiro só sente orgulhoso e auto-confiante com o futebol. Como já diria o grande Nelsão, futebol é o ópio do povo. Valeu Dungaa!

Falta ao nosso um pouco de amor próprio e vergonha na cara.

Um bom exemplo disso são as pessoas que fazem manifestações até no fim do mundo quando seu time perde e dão risada quando um deputado fala que “está se lixando para a opinião pública”. Espero escrever sobre isso em breve.

E uma coisa eu sei, só ficar olhando para o quintal do vizinho e ver o que ele tem e você não com certeza não é o melhor caminho!

Eu juro que uma das coisas que eu mais queria ver é um brasileiro chegando pra um gringo e falando na cara dele que se acha europeu. “Porque meu vô era de num sei onde, minha vó é descendente de...”. CALA A BOCAA!

Para a maioria deles nós somos outro povo, de um mundo completamente diferente e, portanto, todos nós estamos no mesmo barco. Um barco de macacos, segundo a ideologia européia e argentina.


Eu não quero dizer que toda a sua ascendência deve ser esquecida, muito pelo contrário. Ela deve ser valorizada; é a história da sua família.

Me orgulho de ter sangue 50% português, 50% italiano e ser 100% brasileiro.

Mas não esqueça que só porque você é um playboyzinho criado a pão-de-ló que vai ser diferente do resto do Brasil. O nordestino que você tanto despreza é idêntico a você.

Até os cariocas são...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Acredito nas flores vencendo canhões...


Ai ai... Tenho muita raiva disso, mas vamos lá.

Foram 21 anos sombrios.

Mais de duas décadas em que o brasileiro era obrigado a ter medo da própria sombra. Qualquer um poderia ser um informante, oficial ou não, e sem ao menos perceber, um calabouço cheio de dor seria o destino final.

Engraçado como isso me lembra a Inquisição. Um Tribunal da Santa Inquisição em pleno século XX...

Podem falar que o Brasil é cheio de coisas que nos envergonham, e eu concordo plenamente com isso. Mas na história recente (não estou contando com a escravidão, claro!), nem o mensalão foi tão traumático para a nação quanto a Ditadura; até porque, na minha opinião, um é consequência do outro.

E eu explico o porquê dessa conclusão...

Essa corja de corruptos formada por Maluf, Sarney, ACM e seus descendentes e uma infinidade de outros que não são assim tão famosos ganharam força as custas desse sistema malandrão, que impedia o povo de escolher seus funcionários.

NÃO SE ENGANEM, OS POLÍTICOS NADA MAIS SÃO QUE SEUS FUNCIONÁRIOS.

Sem essa de Messias, salvador da pátria e afins... Se eles acertam em alguma coisa não fazem mais do que a obrigação; afinal, não é esse o acordo que todos eles selam com a população durante a campanha?

Mas o que me deixa mais triste são aquelas pessoas que defendem os militares. E o pior de tudo é que normalmente quem defende é quem justamente viveu todo aquele período difícil.

Mesmo se eles tivessem feito um excelente governo, com imensos progressos econômicos e sociais, justificaria as 424 mortes?
Mortes por ideologia. Algo como se você matasse seu vizinho porque ele torce para um time diferente do seu. Bom, esse não foi o melhor exemplo... Agente quase não ve isso por aí.

Ah, e esse número são de dados oficiais. Sempre desconfio deles...

Qualquer forma de Ditadura, cedo ou tarde, traz seu ônus. Nenhum sistema onde não há escolhas, apenas imposições sobreviverá por um longo período.

E só para variar um pouco, os ditadores sempre saem por cima, e o povo na...