sábado, 12 de abril de 2014

Roger Waters emociona 60 mil pessoas no Morumbi

Roger Waters emociona 60 mil pessoas no Morumbi

Nos portões do Morumbi o clima para o show do ex- Pink Floyd não era muito diferente ao de outros espetáculos. A massa trajando preto e caminhando a passos lentos sorria e cantava regada a doses cavalares de cerveja e vinho químico, que logo se tornariam suor e vômitos se esvaindo em clamor por Roger Waters.

A passagem pelos portões é sempre marcada como um momento mágico; o momento em que cai a ficha e um estranho otimismo toma conta do ar. Amigos se abraçam como nunca e riem de maneira cativante. Nessa hora é fácil imaginar o tema da vitória da Fórmula 1 tocando ao fundo.
Lendas do rock, para nós que vivemos no Brasil e não estamos acostumados com eles por aqui o tempo todo, são como uma espécie de Divindade. Os veneramos por anos, mesmo sem nunca termos chegado perto deles para confirmar sua existência.

Atualmente, contudo, muitos artistas que há 15 anos nem sonharíamos ver estão vindo ao Brasil. Iron Maiden, Kiss, U2 e outras bandas agora se dão ao luxo de cruzar o Atlântico e descobrir um novo cantinho na América.

Parecia mentira, afinal, o show foi exatamente no dia 1 de abril, mas o palco para este grande evento não tinha toda a parafernália de caixas de som e telões múltiplos que são comuns em um show de rock.

Estava ali um palco bem cumprido, com 137 metros, mas com apenas um pequeno telão redondo e uma parede destruída bem onde a banda ficava. Aliás, o show era inteiramente feito com o álbum The Wall, lançado em 1979.

Roger, já um senhor com uma vasta cabeleira branca, dessa vez não surgiu com o tradicional baixo de quatro cordas que lhe acompanhava nos velhos tempos, mas sim com um violão preso ao ombro. Um aviador cobria boa parte de seu rosto, estava todo vestido de preto e ostentava um andar firme.

Não fez nenhuma saudação. Apenas apareceu e começou os primeiros acordes de In the flesh?. Impossível não notar a semelhança do cantor com Richard Gere.

Na plateia, olhos brilhando e gritos abafados pelos pulos que logo cessaram com o mar de cabeças que balançavam ao som lento, repetitivo e pesado da música de abertura do The Wall. Parecia que todos estavam numa transe ensaiada com movimentos quase idênticos, porém involuntários.

Ao todo foram tocadas 28 músicas durante duas horas e meia de show. O The Wall tem um significado especial para Roger Waters, pois as músicas são autobiográficas e são da trilha sonora do filme que leva o mesmo nome.

Ao longo do show, a parede que estava quebrada no meio foi aos poucos sendo reconstruída. Tão lentamente que muitos na plateia só perceberam a mudança quando ela estava completa e havia se tornado um imenso telão onde eram projetadas imagens variadas e as letras das músicas. Tudo ficou um pouco psicodélico nesse momento.

O telão e as caixas de som conversavam. Uma bomba explodia virtualmente atrás de Roger, mas quem sentia o impacto nos ouvidos era o público que não sabia ao certo se aquele barulho era real ou não. “Estava tudo muito lindo. Não esperava tanta produção no show do Rogério Águas (risos)”, diz Juliana Stankevicius, estudante, 20 anos.

Os sons que não faziam parte da banda, como de um helicóptero ou de crianças berrando e cantando não partiam das caixas de som do palco, mas sim de amplificadores colocados em cima do anel superior do estádio.

A sensação era de que realmente haviam crianças e helicópteros muito próximos do Morumbi, tanto que a todo o momento as pessoas olhavam para o alto em busca de alguma aeronave sempre com cara de interrogação e, depois, davam um leve sorrisinho ao perceberem que aquilo não era real.

“Nunca gostei muito de Pink Floyd, ficava mais no respeito por ser uma grande banda. Depois do show - que, agora, considero um espetáculo - comecei a gostar muito mais. A ‘parede’ era extremamente bem feita e o som era simplesmente espetacular”, afirma o estudante Andreas Couto, 20 anos.

Também foi possível notar que o show é extremamente teatral, e que Roger deve ter tido alguma dificuldade para decorar cada movimento feito durante o show. Algumas vezes o Roger do telão fazia os movimentos antes do Roger ao vivo.

Terminado o espetáculo, foram poucos os espectadores que sentiram falta dos outros quatro integrantes que formavam o Pink Floyd junto com Roger. Os efeitos especiais, a alta qualidade de som e , claro, o ótimo desempenho do artista de 68 anos de idade não deixaram lacunas a serem preenchidas.

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